20 de junho de 2025

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Por: Redação

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Categorias: destaques, Gestão

Mulheres engenheiras ainda são minoria, mas há avanços

A presença feminina na engenharia brasileira ainda é minoritária. Dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) indicam que apenas 20%, dos 1,17 milhão de profissionais registrados no país, são mulheres. Apesar disso, o avanço tem ocorrido de forma gradual e sustentada, com apoio de iniciativas voltadas à formação técnica e desenvolvimento de lideranças.

Na Votorantim Cimentos, 33% dos engenheiros em atuação no Brasil são mulheres. O número representa um aumento de seis pontos percentuais desde 2022, quando o índice era de 27%. A empresa tem apostado em programas de capacitação e protagonismo feminino para transformar a base de atuação de suas operações, especialmente em áreas historicamente masculinas, como mineração e produção.

A movimentação acompanha o cenário internacional. Em 2014, a organização britânica Women’s Engineering Society instituiu o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, comemorado em 23 de junho. A data busca dar visibilidade a uma realidade ainda marcada por desigualdades.

Em áreas como a engenharia de minas, os desafios são mais evidentes. No Brasil, existem apenas 6.338 engenheiros de minas registrados. Do total, 1.273 são mulheres. A formação também é limitada: segundo o Ministério da Educação, apenas 12 instituições oferecem o curso no país.

Mulheres engenheiras

Beatriz Alexandra da Silva, 29 anos, comanda a operação da mina de calcário da fábrica de Salto de Pirapora (SP). É formada pela Universidade Federal de Alfenas e entrou na empresa em 2024. Desde então, integra o programa Lidera VC, voltado ao desenvolvimento de lideranças femininas. “O programa me ajuda a refletir e trocar experiências com outras mulheres que vivem os mesmos desafios. Saber se posicionar é o mais importante”, afirma.

Beatriz conta que seu cotidiano profissional não é definido por barreiras de gênero. “As dificuldades que enfrento no dia a dia não têm relação com o fato de eu ser mulher, e sim com os desafios técnicos da profissão. Me sinto respeitada por toda a equipe”, diz.

Já Helena Maria Alves Machado, 27 anos, é engenheira de minas na unidade de Primavera, no Pará. Começou como estagiária na fábrica de Sobral (CE) e foi efetivada em 2023. Formada pela Universidade Federal do Ceará, enfrentou a predominância masculina desde o início do curso. “Quanto mais mulheres tiverem cursos de engenharia ou outros ambientes masculinos, mais os homens vão se acostumar. Não podemos deixar de fazer um curso por ser considerado ‘masculino’. Temos que enfrentar e seguir adiante”, diz.

Meta de 25% de líderes mulheres até 2030

A Votorantim Cimentos estabeleceu uma meta global de ter 25% das posições de liderança ocupadas por mulheres até 2030. Em 2024, o índice chegou a 24,8%, frente aos 20,1% registrados em 2020. A evolução tem sido impulsionada por ações práticas de inclusão e desenvolvimento.

Entre os programas implementados, está a Trilha de Capacitação Técnica de Mulheres, que abrange operadoras em áreas como manutenção, mineração, produção e qualidade. No primeiro ciclo, iniciado em 2024, mais de 100 profissionais participam da iniciativa, desde estagiárias até líderes técnicas.

Além disso, a empresa lançou, no mesmo ano, o programa Protagonismo e Autodesenvolvimento: mulheres construindo caminhos, voltado para mulheres que ainda não ocupam posições de liderança. A proposta é fortalecer competências técnicas e comportamentais. Ao todo, 860 mulheres participaram da jornada.

O programa Lidera VC, criado em 2020, soma mais de 250 participantes. A formação aborda temas como estereótipos de gênero, negociação, imagem profissional e liderança estratégica, sempre com foco na inclusão.

Nos processos de recrutamento, a mudança também é perceptível. No Programa de Trainee 2025 da companhia, seis das sete vagas foram preenchidas por mulheres. As posições são voltadas a áreas corporativas como Logística, Suprimentos, Transformação Digital, Recursos Humanos e Tecnologia da Informação.

Desigualdade estrutural persiste no setor

Apesar dos avanços, os dados nacionais apontam um descompasso histórico. Em números absolutos, o Brasil tem cerca de 937 mil engenheiros homens registrados. Mesmo com a ampliação do acesso ao ensino superior, cursos de engenharia seguem sendo majoritariamente masculinos.

Na prática, a inclusão plena esbarra em fatores culturais, estruturais e de acesso. A baixa presença de mulheres em áreas como mineração é reflexo direto desses obstáculos. Programas de formação e redes de apoio são considerados essenciais para a reversão do cenário.

Na avaliação de gestoras de RH e lideranças industriais, o processo não é apenas uma demanda de diversidade, mas também de qualificação. Estudos internos mostram que equipes com maior diversidade de gênero apresentam maior capacidade de resolução de problemas, além de impacto positivo no ambiente organizacional.

Engenharia precisa se transformar para atrair novos perfis

As transformações tecnológicas e os novos desafios da indústria também exigem uma renovação nos perfis profissionais. Áreas como transição energética, economia circular, digitalização e sustentabilidade têm ampliado o espaço para abordagens interdisciplinares — o que favorece a inclusão de profissionais de diferentes origens e experiências.

Empresas como a Votorantim Cimentos avaliam que, além de estimular a entrada de mulheres, é necessário garantir condições para permanência e crescimento. A adoção de trilhas de carreira, programas de mentoria, flexibilização de jornadas e mecanismos de escuta ativa estão entre as ações adotadas nos últimos anos.

No campo da engenharia, esse esforço vem ganhando corpo. Dados de instituições internacionais mostram que iniciativas contínuas de formação e visibilidade contribuem para o aumento da representatividade feminina, especialmente em funções técnicas e de comando.

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Mudança de cultura e referências femininas

A construção de referências também é um dos pilares dessa transformação. Para profissionais como Beatriz e Helena, a troca de experiências com outras mulheres em cargos semelhantes é fundamental para a criação de redes de apoio e para o fortalecimento da identidade profissional.

Dentro da empresa, os programas de formação têm buscado justamente esse efeito multiplicador: dar visibilidade às trajetórias femininas e criar um ambiente de confiança para que mais mulheres ingressem — e permaneçam — na engenharia.

O caminho, no entanto, ainda é longo. Dados do Confea revelam que, em muitas especialidades, a proporção de mulheres não chega a 10%. A ampliação da presença feminina no setor depende da articulação entre instituições de ensino, empresas e entidades reguladoras.

No horizonte, a engenharia brasileira precisa de um salto. Não apenas técnico, mas também de cultura. Um salto em que mais mulheres encontrem espaço para projetar e construir — não apenas obras, mas também um novo setor.