12 de dezembro de 2025

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Por: Redação

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Categorias: Gestão, Obras

Cultura organizacional é o caminho para reduzir atrasos e estouros de orçamento na construção civil

Atrasos e estouros de orçamento permanecem entre os principais desafios da construção civil no Brasil e no exterior. Estudos internacionais e nacionais indicam que o problema tem origem não apenas técnica ou operacional, mas também na cultura organizacional das empresas de construção — influenciada por comportamentos, processos internos, padrões de trabalho e alinhamento entre equipes e fornecedores.

Levantamento da McKinsey mostra que grandes projetos no mundo apresentam, em média, 79% de estouro de custo e atrasos de aproximadamente 52%. Pesquisas recentes sobre megaprojetos reforçam esse padrão: mais de 90% deles ultrapassam orçamento ou prazo em algum nível, evidenciando um problema sistêmico.

No Brasil, o cenário se torna ainda mais desafiador. Um estudo da Fiesp em parceria com a Deloitte estimou que, entre 2023 e 2025, as perdas associadas a entraves regulatórios, processos fragmentados e ineficiências na cadeia da construção podem chegar a R$ 59,1 bilhões. Entre as consequências estão atrasos que se estendem por meses ou, em alguns casos, mais de um ano, em obras que tinham condições de avançar de maneira mais eficiente.

Cultura fraca, obras vulneráveis

Em um artigo publicado pelo diretor de RH, Eduardo Sanches, e o engenheiro-chefe Fernando Ervedeira, ambos da We Are Group, eles argumentam que muitos dos gargalos têm origem em fatores culturais que antecedem o atraso formal no cronograma. Entre eles estão improvisos recorrentes, retrabalhos frequentes, falta de planejamento, fornecedores entregando abaixo do esperado e equipes sem clareza de propósito ou padrões.

Os autores ainda citam que pesquisas acadêmicas apontam mais fatores de risco, como mudanças constantes de escopo, falhas de supervisão, burocracias internas mal gerenciadas e dificuldade de reter profissionais-chave, situações que aumentam custos e reduzem previsibilidade. Para os especialistas, esses elementos não são produto de ferramentas isoladas ou de métodos específicos, mas da cultura organizacional que orienta o trabalho diário.

Como cultura impacta desempenho da construção

Eles citam quatro pontos em que uma cultura corporativa clara e praticada podem aplicar efeitos positivos diretos no negócio:

  1. Menos improviso e mais previsibilidade: Processos consistentes reduzem retrabalhos, evitam desvios de material e controlam interferências. Estudos técnicos mostram que variações não planejadas são um dos maiores geradores de custo extra.
  2. Gente engajada e retida: Quando as pessoas entendem propósito, padrões e prioridades, elas entregam mais qualidade e tendem a permanecer por mais tempo nos projetos. Equipes estáveis são um fator crítico de longo prazo.
  3. Fornecedores alinhados ao “como fazer”: Quando a cultura é firme, o contratante define padrão, não o contratado. Isso evita surpresas, descarrilamentos e recomeços.
  4. Menos fricção com exigências externas: Processos internos sólidos reduzem tempo perdido com reenvios, correções e problemas burocráticos, uma dor frequente no Brasil.

Exemplo dentro de casa

Na We Are Group, que atua em projetos de construção nos segmentos de varejo, escritórios e corporativo, a cultura organizacional é estruturada em seis pilares: excelência, experiência, pessoas, inovação, diversidade e colaboração, como descreveu Sanches, o diretor de RH. Segundo ele, a metodologia adotada se traduz em decisões concretas, como:

  • Garantir que o engenheiro tenha condições reais de performar (inclusive o básico, como o equipamento adequado).
  • Cuidar da jornada de quem entra — a ponto de medir a satisfação dos candidatos no recrutamento.
  • Tratar a organização da obra como parte da entrega, não como backstage.
  • Exigir padrões claros de fornecedores e parceiros para manter consistência.

“O efeito prático? Menos rotatividade, mais engajamento e maior previsibilidade na execução, fatores amplamente documentados na literatura sobre performance de times e melhoria de processos”, afirmou no artigo.

Para Sanches e Ervedeira, enquanto a cultura organizacional for tratada como elemento secundário, o setor tende a repetir percentuais de atraso e estouro de orçamento já conhecidos. “Produtividade não é acaso — é consequência. E começa na cultura”, afirmam.